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20.8.10
9.8.10
Carícia, o essencial fruta tem quatro sentidos. Designa uma resistência alegre ao duro, quando produz a sacarose, e por outro lado emana a sensação do fato acontecido, ou da dança. Estes agenciamentos, estas ações imperceptíveis, fogem para longe das palavras. A sacarose (C12H22O11), também conhecida como açúcar de mesa, estável, tem uma fórmula, um porém, uma mentira: reduz todo o nosso paladar a uma maçaroca adocicada e grudenta na goela. Toda uma variedade contaminada, sabores comprometidos, gradações de doçuras, açúcares coloridos, densos, sonoros. A C12H22O11 homogeneíza, destrói, prega! Balas, chicletes e pirulitos para o desejo forjado. Guerra contra a pamonha, o cuzcuz, o biscoito amor-perfeito de Natividade-TO, o doce de jiló de Goiás, o tacacá, a pitanga e o tesão. O elemento frutose é circulação.
A fruta, considerada elemento da resistência, dura e doce, doce e dura, faz sentir a múltipla face de suas guerras e seus desejos. Mas existe, como a fruta na natureza, uma carícia cotidiana, dentro do povo, no seio das cidades?
Mas porque separar os dois valores: fruta e cidade se confundem, espécie de violência. Mas porque separar a escritura da cidade: o tato e o colorido se agarram, espécie de gozo.
A escritura está na cidade, faz parte da cidade, é a cidade. Reparem Ouro Preto-MG: por fora tudo é limpo e belo; já nos fundos tudo muito sujo e histórico, cheio de camadas. Reparem a música, o colo e cenestesia de seus becos. Já na fachada das casas tem C12H22O11 para os turistas; também nas ruas e nos comércios tem C12H22O11 para os endinheirados; e no cafezinho têm C12H22O11 para os fregueses.
Não, o monstro não põe uma máscara adocicada nas estruturas, nem aguça o paladar da loucura; ele mede. Réguas e trenas sacrificam as estruturas, endireitam a fachada, pintam o muro de branco. Os banners são cobrados não necessariamente pelo seu tamanho, mas pela intensidade de C12H22O11 injetado em nosso olhar. O monstro mede e mastiga.
Em Brasília, para olhos rasos, de turistas, para turistas, quase tudo é C12H22O11. A escrita é C12H22O11. ECCO é uma palavra derivada do intitulamento açúcar, usado desde remotos tempos, e que com o correr dos séculos se foi transformando, até chegar no atual ECCO, passando pelas formas intermédias abreviadas por sucessiva contração de Glucopiranosídeo, fructofuranosil, sacarose, verbo. “Isto foi feito para rir” (Deleuze e Guattari, MP1, p. 34).
A arte resiste, fruta que é: André Santângelo, Camila Soato, Fábio Baroli, Grupo Tuttaméia, Grupo Entreaberto, Larissa Ferreira, Mesa de Luz, Milton Marques, Polyana Morgana, SCLRN, Wagner Barja, entre outros tantos.
E a fruta-cidade?
amarelinha binária. galeria da casa de cultura da américa latina. brasília. 2010
Amarelinha Binária e ANTI CORPOS são sistemas complexos artificiais, doces, linguagem; naturais, líquidos, gasosos, sexuados, animalescos e mistos, prontos para agregar.
A composição urbana Amarelinha Binária surge a partir de ações denominadas Mar(ia-sem-ver)gonha: composições urbanas (CU) com o objetivo de compor arte, corpo, errante, vizinhança, grupo, ambiência, rua, através de jogos e brincadeiras. O público é iterator, busca-se iteração. Amarelinha Binária, logo incompossível, infinita, devir.
Mar(ia-sem-ver)gonha vai sem ver, tateia. Não busca a lógica da linguagem do açúcar, se quer fruta, siririca, e apodrece em odores desafiando a lógica. As sementes dirão?
Propõe-se o jogo, desenhados descaminhos abertos em todos os sentidos. A numeração se alterna: zero, um, um, zero, zero, um, um, um. A escritura aqui é da ordem da garatuja. A dimensão é aquela do corpo inteiro correndo como fruta escorrendo pelos lábios da cidade. O corpo inteiro se incrustando no asfalto: Setor Comercial Sul. Aqui de dia vive o comércio mesclado de todas as raças, cores até incomuns para aqueles que pouco conhecem Brasília. Digamos a verdadeira Brasília, aquela do CONIC, de Taguatinga, Sobradinho e Brazlândia. De noite desfilam travestis, saem das tocas os frutos da terra, i-mundo-intuitivos: UAI UI. A polícia ronda cega.
Da galeria à rua a Amarelinha Binária ocupa um espaço de cerca de 100m2. Propõe-se àquele que às cegas chega de manhã bem cedo para o árduo trabalho, propõe-se à noite aos lúcidos infiéis que saboreiam as frutas. Uma televisão jorra, a partir da galeria, videoartes de outras amarelinhas anteriores: espetáculo Mar(ia-sem-ver)gonha realizado em outros pontos de Brasília, nas satélites, em Goiânia. Tudo periferia, local da fruta, da árvore, do rizoma, mas, sobretudo da maria-sem-vergonha. E a Mar()gonha também chupa fruta? Qual o preço da Mar()gonha?