Carícia, o essencial fruta tem quatro sentidos. Designa uma resistência alegre ao duro, quando produz a sacarose, e por outro lado emana a sensação do fato acontecido, ou da dança. Estes agenciamentos, estas ações imperceptíveis, fogem para longe das palavras. A sacarose (C12H22O11), também conhecida como açúcar de mesa, estável, tem uma fórmula, um porém, uma mentira: reduz todo o nosso paladar a uma maçaroca adocicada e grudenta na goela. Toda uma variedade contaminada, sabores comprometidos, gradações de doçuras, açúcares coloridos, densos, sonoros. A C12H22O11 homogeneíza, destrói, prega! Balas, chicletes e pirulitos para o desejo forjado. Guerra contra a pamonha, o cuzcuz, o biscoito amor-perfeito de Natividade-TO, o doce de jiló de Goiás, o tacacá, a pitanga e o tesão. O elemento frutose é circulação.
A fruta, considerada elemento da resistência, dura e doce, doce e dura, faz sentir a múltipla face de suas guerras e seus desejos. Mas existe, como a fruta na natureza, uma carícia cotidiana, dentro do povo, no seio das cidades?
Mas porque separar os dois valores: fruta e cidade se confundem, espécie de violência. Mas porque separar a escritura da cidade: o tato e o colorido se agarram, espécie de gozo.
A escritura está na cidade, faz parte da cidade, é a cidade. Reparem Ouro Preto-MG: por fora tudo é limpo e belo; já nos fundos tudo muito sujo e histórico, cheio de camadas. Reparem a música, o colo e cenestesia de seus becos. Já na fachada das casas tem C12H22O11 para os turistas; também nas ruas e nos comércios tem C12H22O11 para os endinheirados; e no cafezinho têm C12H22O11 para os fregueses.
Não, o monstro não põe uma máscara adocicada nas estruturas, nem aguça o paladar da loucura; ele mede. Réguas e trenas sacrificam as estruturas, endireitam a fachada, pintam o muro de branco. Os banners são cobrados não necessariamente pelo seu tamanho, mas pela intensidade de C12H22O11 injetado em nosso olhar. O monstro mede e mastiga.
Em Brasília, para olhos rasos, de turistas, para turistas, quase tudo é C12H22O11. A escrita é C12H22O11. ECCO é uma palavra derivada do intitulamento açúcar, usado desde remotos tempos, e que com o correr dos séculos se foi transformando, até chegar no atual ECCO, passando pelas formas intermédias abreviadas por sucessiva contração de Glucopiranosídeo, fructofuranosil, sacarose, verbo. “Isto foi feito para rir” (Deleuze e Guattari, MP1, p. 34).
A arte resiste, fruta que é: André Santângelo, Camila Soato, Fábio Baroli, Grupo Tuttaméia, Grupo Entreaberto, Larissa Ferreira, Mesa de Luz, Milton Marques, Polyana Morgana, SCLRN, Wagner Barja, entre outros tantos.
E a fruta-cidade?
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